“Calathos” ou entrelaçamento em grego. É isto que esta série de post está iniciando; Deus se misturando a arte, seja ela em verso, prosa, pintura, cinema, escultura. Em uma obra completa ou fragmentos da criação do homem.“
“Deus em Jesus Cristo se “mistura” a humanidade, para que nós nos misturemos a Divindade.”
Grande Sertão: Veredas
João Guimarães Rosa
Romance escrito por Guimarães Rosa, publicado no ano de 1956. Obra-prima, traduzida para muitas línguas, é uma narrativa em que a experiência de vida e de texto se fundem numa obra fascinante, permanentemente desafiadora.
O romance se constrói como uma longa narrativa oral, Riobaldo, um velho fazendeiro, ex-jagunço, conta sua experiência de vida a um interlocutor, que jamais tem a palavra e cuja fala é apenas sugerida.
Conta histórias de vingança, seus amores, perseguições, lutas pelos sertões de Minas, de Goiás, do sul da Bahia, tudo isso entremeado de reflexões sobre tudo. Os demais personagens falam pela boca de Riabaldo, valendo-se de seu estilo de narrar e de suas características lingüísticas individuais.
As histórias de vingança vão sendo emendadas, articulando-se com a preocupação do narrador de discutir a existência ou não do diabo , do que depende a salvação de sua alma.
No fragmento aqui abordado, Riobaldo conta ao seu “cumpadre” como Deus age, mesmo antes de termos a consciência de sua interferência em nosso viver. Que o “milagre” nos é concedido de “graça”.
Mas vamos ao texto:
“O Senhor...Mire veja: o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas – mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam. Verdade maior. É o que a vida me ensinou. Isso que me alegra, montão. E, outra coisa: o diabo, é às brutas; mas Deus é traiçoeiro! Ah, uma beleza de traiçoeiro – dá gosto! A força dele, quando quer – moço! – me dá o medo pavor! Deus vem vindo: ninguém não vê. Ele faz é na lei do mansinho – assim é o milagre. E Deus ataca bonito, se divertindo, se economiza. A pois: um dia, num curtume, a faquinha minha que eu tinha caiu dentro de um tanque, só caldo de casca de curtir, barbatimão, angico, lá sei. – “Amanhã eu tiro...” – falei, comigo. Porque era de noite, luz nenhuma eu disputava. Ah, então, saiba: no outro dia, cedo, a faca, o ferro dela, estava sido roído, quase por metade, por aquela aguinha escura, toda quieta. Deixei, para mais ver. Estala, espoleta! Sabe o que foi? Pois, nessa mesma tarde, aí: da faquinha só restava o cabo...O cabo – por não ser de frio metal, mas de chifre de galheiro. Aí está: Deus...Bem, o senhor ouviu, o que ouviu sabe, o que sabe me entende...”
(Grande Sertão: Veredas - João Guimarães Rosa)
Para saber mais:
Grande Sertão: Veredas
Filme
Minissérie
http://www.emule.com.br/lista.php?keyword=Vereda
Veja este pequeno documentário sobre a vida de Guiamarães Rosa. VALE A PENA!
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1 comentários:
Lindo texto!!!
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